A Cortiça: jóia da coroa dos nossos recursos naturais.
Na Expo 2000 de Hannover a cortiça, juntamente com a pedra de liós e o azulejo foram os materiais escolhidos para a construção e ornamentação do Pavilhão de Portugal. O tema desta exposição "Humanidade, Natureza e Tecnologia" relaciona-se com este material, 100% natural, reciclável e símbolo de algumas das paisagens mais características do nosso país.
Portugal tem no sector corticeiro uma oportunidade de brilhar, uma vez que somos mundialmente o maior produtor e transformador industrial de cortiça. Mas como se forma este produto, como se processa o seu crescimento e quais as propriedades que o tornam tão importante?
O sobreiro (Quercus suber) é a única espécie florestal do mundo produtora de cortiça com capacidade para utilização industrial, pois todas as outras produzem cortiça (ou tecido suberoso) mas com características completamente diferentes.
A cortiça é um bem característico do sul de Portugal, mais propriamente do Alentejo.
O seu aproveitamento processa-se a vários níveis, mas a metodologia do descortiçamento não tem fugido ao processo tradicional pelas dificuldades que levanta o descasque da árvore.
O registo dessas actividades é vasto e muito rico.
A cortiça é um produto ecológico que vai ao encontro das actuais necessidades de protecção e preservação do meio ambiente.
A primeira cortiça a ser formada designa-se por cortiça virgem. As fortes tensões de crescimento radial a que se encontra sujeita fazem com que apresente uma estrutura bastante irregular, sendo utilizada maioritariamente para artigos decorativos. É a cortiça amadia, extraída em sobreiros com uma idade normalmente próxima ou superior a 40 anos, que constitui a base da transformação industrial. Esta cortiça apresenta características muito particulares, possuindo elevada elasticidade, compressibilidade, imputrescibilidade, capacidade de isolamento, baixa densidade e fraca permeabilidade.
A época de descortiçamento vai geralmente de Julho a Setembro. Por imposição legal o descortiçamento só pode ser feito de 9 em 9 anos e quando o sobreiro apresenta um perímetro do tronco superior a 70cm. A cortiça é retirada em pranchas, pedaços de cortiça com altura superior a 1m e largura a rondar os 40cm, dependendo do tamanho do sobreiro e do local - tronco ou ramos - de tirada da cortiça. Esta operação, pelos danos que produz na árvore, necessita de cuidados especiais para não a afectar gravemente e comprometer a produção seguinte de cortiça. Ápos a retirada da árvore, a cortiça é colocada em pilhas e fica em "descanso" durante aproximadamente seis meses, altura em se inicia a sua transformação tecnológica.
No sobreiro, o ciclo anual de crescimento da cortiça compreende duas fases: a de actividade vegetativa, que vai da Primavera ao fim do Outono, e a de repouso invernal, que se prolonga pelos meses de Novembro a Fevereiro. O repouso invernal pode ser mais ou menos longo consoante as condições ambientais.
Na primeira fase distinguem-se dois períodos: o primaveril, de crescimento mais activo, correspondendo a 2/3 do crescimento suberoso (da cortiça) anual, nos meses de Março, Abril, Maio e Junho, e o período estivo-outonal em que a intensidade do crescimento é bastante menor e que se prolonga por Julho, Agosto, Setembro e Outubro. A estes dois períodos de crescimento correspondem dois tipos de células diferentes, as de Primavera maiores e com paredes mais finas e as de Outono mais pequenas e com uma maior espessura da parede. O aumento gradual da espessura das paredes e as menores dimensões das células produzidas no Outono originam diferentes colorações na prancha que permitem delimitar as sucessivas camadas anuais correspondendo os anéis mais escuros a este período.
Considera-se como crescimento completo a resultante da fase de actividade vegetativa, compreendendo tecidos formados na Primavera e tecidos formados no Verão e Outono. Todo o crescimento que não apresenta células de ambos os tipos é um crescimento incompleto, e compreende dois períodos distintos, um que vai desde a tirada da cortiça até ao momento em que cessa a actividade vegetativa e a árvore entra no período de repouso invernal e o outro que vai desde o início da actividade vegetativa até à tiragem da cortiça no fim do ciclo produtivo.
No primeiro período de crescimento incompleto produz-se uma camada delgada de tecido suberoso, caracterizada pela presença exclusiva de células de Verão e de Outono, cuja espessura varia consoante a intensidade de crescimento da árvore, o momento da tirada e o início do período de repouso. A este estrato suberoso falta-lhe a parte formada durante a Primavera, que ficou aderente à prancha no momento da tirada. O segundo período de crescimento incompleto compreende apenas as células de três a quatro meses formadas durante a primavera, sendo a sua espessura variável consoante o início da actividade vegetativa e o momento da tirada.
A determinação da idade é feita com base nos crescimentos completos, correspondentes a um ano, e incompletos, correspondentes a ½ ano. Para sabermos a idade da cortiça temos que acrescentar ao número de camadas anuais completas mais um ano, que representa a soma dos dois ½ anos. Por vezes, a suspensão temporária da actividade da assentada geradora é provocada pelo rigor da estiagem (forçando a um período de repouso estival), pela destruição da folhagem por parasitas ou pelo fogo formando-se, então, uma falsa zona de Outono.
A longevidade de um sobreiro atinge em média 200 anos.
Devido às suas inúmeras qualidades e características únicas, a cortiça tem sido procurada, desde a Antiguidade, para muitos fins. Com efeito, as suas primeiras aplicações estão também ligadas ao fabrico de bóias para a pesca, calçado, urnas, ornamentações e coberturas de habitações. Actualmente, é grande a variedade dos produtos de cortiça, destacando-se o seu recurso no fabrico de parquetes e isolantes na construção civil.
No campo, a cortiça é aproveitada para inúmeros fins:
ISOLANTE : A cortiça é um dos melhores isolantes térmicos do mundo. Ninguém conseguiu até hoje produzir algo semelhante à cortiça, que foi utilizada no navio Titanic e é mesmo utilizada no Space Shuttle!
SILÊNCIO : A cortiça reduz o ruído dos passos entre compartimentos e andares, proporcionando um ambiente livre de qualquer perturbação acústica.
IMPERMEÁVEL : A cortiça é um bom impermeável, mesmo submersa, o que faz com que seja eficaz contra gases e líquidos.
ROUPAS E ACESSÓRIOS: É incrível, mas é verdade, da cortiça também se faz variadíssimas peças de roupa e acessórios de moda.
O que se pode fazer com a cortiça, ainda não está tudo desvendado.